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  • Writer's pictureJorge Kondo

Não haverá vida normal pós-pandemia

O novo coronavírus nos atingiu em cheio e não veio sem aviso prévio, nos mandou mensagens, cartas, memorandos, relatórios, e-mails, telefonemas, vídeos do Youtube e até memes da internet. Infelizmente passamos por momentos difíceis no Brasil, consequência do velho obscurantismo de governantes que se vangloriam de um passado próspero e inexistente. A Universidade Pública, mais uma vez em tão pouco tempo, está à mercê da ignorância mórbida dos poucos desqualificados que se acham especialistas. Na UFSC, todas as atividades didáticas e administrativas foram suspensas como uma única maneira de conter o avanço da infecção, que se mostrou disseminar de maneira estrondosa e pode ser até dez vezes mais mortal em comparação ao vírus da Influenza H1N1, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)[1]. Foram comprovadamente infectados no planeta mais de 2 milhões de indivíduos, resultando em mais de 130 mil mortes. Esses números, como todos já sabem, são extremamente subestimados. A pandemia será mais mortal do que os números mostram num curto intervalo de tempo.




As análises matemáticas e diagnósticos de alguns cenários pelo respeitável grupo de pesquisadores da Imperial College London[2], nos mostrou que os procedimentos de isolamento social são importantes para o achatamento da curva evitando, assim, a morte de dezenas de milhões de pessoas ao redor do mundo; um novo artigo publicado pelos pesquisadores do Departamento de Imunologia e Doenças infecciosas ligado a Universidade de Harvard [3] na respeitável revista cientifica internacional Science, mostra um cenário pós pandêmico bastante desafiador, em especial para países emergentes como o Brasil. O trabalho mostra que na ausência de tratamentos terapêuticos eficientes como vacinas e antivirais, o processo de controle da infecção é bastante complexo. Uma das principais conclusões do estudo é que apenas uma quarentena ou isolamento social mantidos indefinidamente e que reduza em 60% a taxa de infecção de pessoa a pessoa é efetiva em todos os cenários. Contudo, sabemos que não é factível tal realização de isolamento. O trabalho também mostra que muito possivelmente, a depender do tempo médio em que um individuo recuperado permaneça imune ao SARS-CoV-2, haverá maior infecção em estações definidas do ano. Apesar de no artigo os autores utilizarem dados de países temperados (estações quentes e frias bem definidas), é possível prever que num clima mais tropical o processo de infecção possa ser estável durante o ano.


De fato, o artigo chega a conclusões pouco otimistas. Em suas simulações, mostra que a quarentena/isolamento social pode “apenas” retardar o aparecimento do “pico” da infecção; essa conclusão gráfica e numérica se justifica quando uma grande parte da população é protegida da infecção, não desenvolvendo anticorpos contra a doença. Este é um paradoxo epidemiológico, já que podemos conter a doença se limitarmos o contato das pessoas com ela, mas ao mesmo tempo, mantemos um reservatório de pessoas susceptíveis ao vírus que, uma vez relaxado o isolamento, podem facilmente se infectar. Na guerra entre economia, empregos e saúde pública, os países que se dizem em melhores condições por já terem passado o pico de infecção voltam a atenção ao relaxamento das medidas de isolamento. A OMS já reporta que o afrouxamento pode apenas ocorrer em conjunto com testes em massa da população, estrutura de atendimento apropriado e disponibilização de profissionais de saúde treinados. Não parece haver receita pronta para um retorno à normalidade pós-pandemia. O artigo de Harvard traz também uma provável periodicidade da doença ao longo dos próximos cinco anos e medidas de mitigação deverão ser tomadas anualmente mesmo depois de disponível uma cura ou vacina.


Entretanto, não são apenas notícias ruins. O artigo também mostra que há uma boa possibilidade de existência da chamada “imunidade cruzada”, ou seja, a gripe comum que todo ano podemos ter é causada por dois tipos de coronavírus humano, o HCoV-CO43 e o HCoV-HKU1, estes possuem baixa mortalidade e também um curto período de imunização do indivíduo curado (aproximadamente 45 semanas – 1 ano aproximadamente), e quem tem um tipo pode ser imunizado contra o outro. A exemplo, o indivíduo que for contaminado com o HCoV-CO43 e estiver com o anticorpo para esse vírus em seu organismo, poderá estar imune contra o HCoV-HKU1, e vice versa. O processo de imunização cruzada é mais eficiente quando o indivíduo contrai a gripe causada pelo primeiro betacoronavírus, o SARS-CoV-1, quem se recupera dessa doença está naturalmente protegido contra a gripe comum com período de imunização maior. O que fica claro é que os procedimentos de isolamento devem ocorrer de forma periódica e intermitente, sempre reduzindo o pico de infecção de forma a não colapsar o sistema de saúde. Assim a vida pós pandemia deve ser repensada, especialmente dentro da Universidade, onde aulas presenciais eram o fator predominante na qualidade do ensino. Neste novo mundo pós pandemia, devemos aprender a viver em isolamento social constante, usar máscaras, luvas, líquidos desinfetantes a todo momento, além de evitar o contato físico. A Universidade não pode parar, é preciso criar condições para que alunos e professores interajam em ambientes virtuais de aprendizagem, e que problemas pontuais como acesso a internet e equipamentos seja suprido de forma momentânea pela Instituição.


[1] Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO) - https://www.who.int/

[2] The Global Impact COVID-19 and Strategies for Mitigation and Supression, Patrick GT Walter et al. Imperial College London, 2020 – DOI: http://doi.org/10.25561/77735

[3]Projecting the transmission dynamics of SARS-CoV-2 through the postpandemic period, Stephen M. Kissler, et al. Science, 2020 – DOI: http://doi.org/10.1126/science.abb5793

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